Saturday, July 01, 2006

Horizonte
Fazenda Horizonte é o nome de uma propriedade rural
situada ao sul do município de Palmas no estado do Paraná.
É minha terra natal, à qual ainda vivo ligado pelos laços da saudade da primavera de minha vida.
A região onde se encontra essa fazenda é conhecida como Horizonte.

O “Remoto” do “Horizonte Remoto” é para dar uma idéia de como ficaram longínquos os costumes de apenas meio século atrás.

Vamos procurar relembrar como vivíamos no Horizonte e assim rememorar as coisas boas, as alegrias, as atividades, os costumes, as dificuldades etc., que eram semelhantes para nossos conterrâneos.
A atividade principal na região era criação e engorda de gado para corte, o leite e seus derivados não eram comercializados, eram produzidos apenas para o consumo próprio.
O solo não se prestava à agricultura e não se conheciam recursos para corrigi-lo. O máximo que se conhecia era o adubo orgânico para pequenas lavouras e hortas e consistia de esterco de gado. A gente juntava o estrume e o amontoava, depois de curtido, era esparramado sobre o solo, a seguir, se revolvia a terra para torná-la mais fofa e permeável e, também, para homogeneizar a mistura com o adubo. Quando a área era pequena, a terra era remexida com a pá; quando grande, com o arado.
No inverno, a vegetação do campo era queimada pelas geadas, o capim amarelava e ressecava.
Durante o mês de Setembro, eram feitas as queimadas, os campos se cobriam de luto fechado, a cor de carvão entristecia a natureza. Todavia, em poucos dias o negrume era substituído pela cor da esperança, o colorido do capim brotando, verdejava a pradaria.
Os fazendeiros, que possuíam áreas de campo e de mato, transferiam o gado daquelas para estas, durante o inverno. Assim o fazendo, os animais ficavam mais protegidos do frio e do vento, e encontravam mais alimento.
Nessa época do ano, o gado se encontrava muito magro. A alimentação escasseava, o frio e o vento o fustigava. Muitas cabeças de gado morriam quando o inverno era rigoroso.
Depois da queimada, o capim brotava primeiro nos banhados, devido à umidade da terra. Então, O gado adentrava-se neles para pastar os tenros brotinhos. Se suas pernas afundassem um pouco no barro, não conseguiam se desatolar, devido à fraqueza em que se encontravam.
Em todos os dias, era necessário percorrer os campos para arrastar para fora do banhado os animais que não conseguiam sair por conta própria.
As geadas apareciam, freqüentemente, durante os meses de abril, junho, julho e agosto, diminuindo em Setembro.
- E o mês de maio?
- Bem, o mês de maio era diferente. Havia um fenômeno que o diferenciava dos seus vizinhos. A temperatura se elevava sensivelmente. Esse período era conhecido como “veranico de maio”.
A área de campo destinada à criação ou engorda de gado era denominadas de Fazenda.
Fazenda agrícola não existia. Na região do mato, existiam pequenas áreas de terras, denominadas sítios que eram exploradas com pequenas lavouras e criações de animais de pequeno e médio porte. Nesses lugares, havia alguns cavalos destinados aos serviços de montaria e tração, e vacas leiteiras.
As Fazendas eram subdivididas em áreas menores que recebiam nomes diferentes conforme sua utilização:-
Invernada: - campos cercados contendo pastagem e aguadas para criar e engordar gado.
Potreiro ou piquete: - pequena área também cercada, próxima à sede, onde ficavam os animais de serviço ou as vacas leiteiras, das quais se tirava o leite para o consumo diário.
Todos esses terrenos eram delimitados por obstáculos para impedir a passagem de animais, principalmente o gado graúdo. Os animais de pequeno e médio porte, quase sempre, tinham trânsito livre de um cercado para outro.
Diversas eram as maneiras de cercar uma área. Havia cercas de: arame liso ou farpado, madeira (pinho) lascada, pau a pique, muro de pedras (taipas), vala, e obstáculos naturais como: rios, banhados, paredões de pedras.
Ao que nos parece, as taipas e as valas devem ter sido feitas pelos escravos.
Os animais de pequeno porte somente eram confinados em épocas especiais, em geral, viviam soltos e não se distanciavam muito das moradias.
As ovelhas pernoitavam num cercado, raramente coberto, onde ficavam protegidas do ataque de outros animais que costumavam devorá-las: cachorro, graxaim ou guaraxaim (espécie de cão selvagem), raposa, gambá e jaguatirica.
As galinhas passavam a noite no galinheiro (construção rústica de madeira lascada), dentro da qual se fixavam varas horizontais denominadas poleiros, sobres as quais as aves dormiam. Quando não havia galinheiro as “penosas” dormiam empoleiradas em galhos de árvores.
Pela manhã, a porta do galinheiro era aberta, as aves saíam para comer milho que se jogava no chão. Durante o dia, permaneciam soltas nas proximidades da casa, procurando alimentos. Ao cair da tarde, todas voltavam espontaneamente para o abrigo.
Os galos tinham o privilégio de não serem castrados, viviam juntos com as fêmeas, porém, eram poucos que sobreviviam por muito tempo. A maioria, quando ainda frango, ia para a panela e era comido como galinha.
O galo (índio) pertence a uma raça belicosa e são criados especialmente para lutarem nas rinhas. Desde pequenos são tratados com alimentação diferenciada e são adestrados para lutar uns contra os outros. Vivem confinados e na maioria das vazes morrem lutando. Os adeptos dessa violência, os galistas, normalmente vivem da venda de galos e das apostas que fazem nas lutas.
O galo que tentar fugir da luta é desclassificado e considerado perdedor, por isso o galo que entra na rinha mesmo que esteja sendo sacrifico não é retirado para que os apostadores não percam o seu dinheiro. Muitas vezes o animal perde o bico, fica cego, com a cabeça inchada e recoberta de sangue, mal para em pé, mas, a peleja continua para satisfazer “o prazer indescritível do ser humano”. – GALO BOM MORRE, MAS NÃO FOGE DA RINHA-. Eis o lema.
Em pequena quantidade, criavam-se também perus, marrecos, patos e gansos.
As penas dos gansos eram usadas na confecção de acolchoados. Estes são bem mais leves e aquecem mais que os feitos com lã de carneiro. Tanto uns como os outros eram feitos em casa.
A criação de porcos era restrita, destinada mais para obtenção de banha do que de carne. A banha era a única gordura que se conhecia para cozinhar.
O porco era confinado em cercado denominado chiqueiro, de 90 a 120 dias, para completar a engorda, em seguida, era morto e aproveitado de várias formas, como veremos adiante.
Às vezes, alguns porcos se afastavam da casa, adentravam o sertão e iam se reproduzindo, formando uma vara (manada de porcos). Para recuperá-los, se faziam verdadeiras caçadas, utilizando-se cães e armas de fogo.